quarta-feira, janeiro 27, 2010

Disciplina em debate na Calheta

Debate sobre a disciplina como valor para a realização pessoal e profissional, na Escola Básica e Secundária da Calheta, entre as 14 e as 17h00 de hoje, 27 de Janeiro.

Depois da introdução feita por nós (ver aqui em slideshow), para desafiar os presentes para o debate com alguns factos e ideias estratégicas, o director regional de Educação, Rui Anacleto, salientou desde logo que a escola reflecte o que se passa na sociedade, mas não aceita a via do facilitismo («escola lúdica») porque a Região e o País precisam de pessoas qualificadas. Mencionou os prejuízos que a equipa ministerial anterior trouxe para a autoridade dos professores, culpabilizados de tudo o que estava mal na Educação.

O professor Valter Correia (ex-director da Escola B+S do Porto Moniz) definiu a indisciplina em sala de aula como tudo o que põe em causa o bom ambiente (a concentração) para o decorrer do processo de ensino-aprendizagem. Acentuou que a Educação é um assunto demasiado sério - enquanto pilar da democracia e garante da igualdade de oportunidades - para haver complacência face à indisciplina, numa actuação que deve ser sobretudo racional e pragmática.

Este orador referiu ainda que o acompanhamento da família é a base, o fundamental, tendo depois os alunos e os professores a sua parte de responsabilidade. A liderança dos professores em contexto pedagógico e das escolas foi realçado. Sugeriu mesmo mais formação para os docentes neste âmbito. Afirmou ainda que o aluno indisciplinado «não tem o direito de pôr em causa o direito dos outros à aprendizagem.» Para si, «consentir a indisciplina não ajuda o aluno.»

Outro orador, o Subcomissário da PSP Simão Freire, a propósito do peso da liderança do professor, fez notar que «não existe liderança sem autoridade: só se é líder quando há autoridade».

Tendo como referência a sua experiência no Colégio Militar, onde «não há mimos nem comodidades», salientou a importância da responsabilidade/responsabilização já que os «menores hoje não se sentem responsabilizados.» Falou dos valores morais/sociais que formam o carácter e de como o que define uma pessoa não é tanto a violação da regra mas sim a «forma como ela encara essa falha.» Porque são os valores que impedem de violar as regras e não a existência das regras em si. Quando não há valores pessoais que impeçam a indisciplina, a pessoa indisciplinada assume as consequências.

O seu lema é responsabilizar e não flexibilizar (muito menos ter uma atitude complacente e desculpabilizante, como também sublinhou Valter Correia, seja qual for a realidade social e cultural do aluno: «o aluno falhou, pagou», disse este professor).

O pároco Silvano Gonçalves, na sua intervenção, resumiu o problema desta forma: «a disciplina mais eficaz é preparar as pessoas para o sentido da importância do outro.» O problema, diríamos nós, é o ego desmedido de muitos indisciplinados que a última coisa que querem saber é precisamente do outro...

Marco Vasconcelos, atleta olímpico, deu conta da muita indisciplina também no desporto: a «cultura da disciplina perdeu-se.» E isso compromete os resultados desportivos. Sofia Canha, a moderadora, observou que o desporto é uma actividade para a qual os jovens têm maior predisposição, mas que mesmo assim não escapa à indisciplina... Agora imagine-se quando não há predisposição nenhuma para o trabalho intelectual/escolar os níveis que a indisciplina atinge...

A psicóloga Sara Silva referiu que os limites e hábitos desde que a criança nasce determinam a aquisição de competências sociais e auto-disciplina. Mais referiu que a disciplina exige uma acção sistémica, em que cada actor faz a sua parte, e que a liderança democrática é o modelo de liderança que melhor serve o meio escolar e familiar.

A este propósito Simão Freire referiu que o tipo de liderança deve adequar-se ao público que temos à nossa frente. Acrescentaríamos que o professor tem sempre vinte e tantos alunos à sua frente, que requerem diferentes estilos de liderança quase em simultâneo...

Indisciplina nas escolas, breve enquadramento

terça-feira, janeiro 26, 2010

Debate sobre disciplina na imprensa 2

Escola Básica e Secundária da Calheta, dia 27 de Janeiro, às 14h00.

Sobre o título «Há menos auto-disciplina», o Jornal da Madeira, em 23.01.2010, publicou a seguinte notícia:

«Há menos auto-disciplina nas pessoas. Há menos responsabilização das pessoas na sociedade em geral. Foram consequências, de certeza, da Revolução do 25 de Abril, que nos trouxe coisas fantásticas mas, neste aspecto, trouxe consequências negativas», afirma a docente Sofia Canha, da Escola Básica e Secundária da Calheta.
A afirmação vem a propósito de um debate que aquele estabelecimento de ensino vai promover no próximo dia 27, quarta-feira, pelas 14 horas.

A questão da disciplina, como base fundamental para a formação do indivíduo nas suas diversas facetas, vai ser abordada pelo actual presidente da Câmara Municipal do Porto Moniz (ex-Presidente do Conselho Executivo da EBS Porto Moniz), pelo Padre Silvano Gonçalves, pelo Sub-comissário Simão Freire, pelo atleta olímpico Marco Vasconcelos e pela psicóloga Sara Silva.

Sofia Cunha, docente na Escola Básica e Secundária da Calheta alerta que há jovens muito responsáveis. A questão é que «perdeu-se de facto a noção da responsabilidade individual, usamos com mais leveza o assumir das responsabilidades e isso vai reflectir-se a todos os níveis», diz.

Para esta professora, «se isto não for treinado num jovem em formação, quando este for adulto será também indisciplinado. Isso vai reflectir-se nos serviços que o mesmo vai cumprir no seu local de trabalho».

Sofia Canha refere, contudo, que com isto não quer dizer que a educação tenha de ser feita como regime militar.- O que é preciso é «incutir a disciplina e fazer que não sejam os terceiros, os responsáveis», disse.

Recorde-se:
Disciplina, um pilar para a realização pessoal e profissional

Debate sobre disciplina na imprensa 1

Diário, 23.01.2010.

Recorde-se:
Disciplina, um pilar para a realização pessoal e profissional.

domingo, janeiro 17, 2010

Disciplina: um pilar para a realização pessoal e profissional

Um debate com os agentes educativos dia 27 de Janeiro de 2010 (14h00) na sala de sessões da Escola Básica e Secundária da Calheta.
photo (c)

A disciplina é uma base fundamental para a formação do indivíduo nas suas diversas facetas. Um dos factores determinantes para o insucesso escolar e profissional é a falta de disciplina ou de auto-disciplina, sendo por isso pertinente debatermos esta questão sem preconceitos e envolvendo os principais agentes educativos do concelho.

Intervenientes:

Marco Vasconcelos (Atleta olímpico)
Silvano Gonçalves (Pároco da freguesia da Calheta)
Simão Freire (Sub-comissário da PSP)
Sara Silva (Psicóloga)
Valter Correia (ex-Presidente do Conselho Executivo da EBS do Porto Moniz)

Moderadores:

Sofia Canha e Nélio de Sousa (Docentes da Escola Básica e Secundária da Calheta)

Uma iniciativa:

Escola “a duas velocidades” é escola de “velocidade nenhuma”

A crise da escola portuguesa não se resolve com a assinatura do recente acordo de princípios entre os sindicatos e o Ministério da Educação. Está para além da carreira, avaliação do desempenho e salários.
photo origin

Não concordo que a escola se concentre na dimensão social (lhe dê prioridade) ao ponto de conceder menor atenção e, pior ainda, negligenciar a aprendizagem.

Perante a escola “a duas velocidades” (com vocações diferentes), a social de acolhimento e a da aprendizagem, como coloca António Nóvoa (Professores, Imagens do futuro presentedisponível online, com destaque para o capítulo "Educação 2021"), a prioridade deve ser dada à aprendizagem.

Na sociedade actual o «pior que podemos fazer às crianças, sobretudo às crianças dos meios mais pobres, é deixá-las sair da escola sem uma verdadeira aprendizagem», defende aquele autor. Isto é, gerar futuros excluídos da vida. Sob a capa de um falso igualitarismo e inclusão balofa, «aniquilam a única oportunidade que os filhos dos pobres têm de sair do buraco onde nasceram», escreveu Maria Filomena Mónica.

A “inclusão” actual resume-se a ter os estudantes dentro dos muros da escola. O laxismo e o facilitismo em que caiu a escola social de acolhimento (também escola lúdica e sala-de-estar...) significa, na prática, promoção da exclusão social para a vida activa.

O acolhimento, apoio social e integração de todos na escola, que defendo, não deve nem tem de implicar a desvalorização da cultura escolar e do processo de ensino-aprendizagem, nem a perda de valores universais de qualquer época. Nem tem de implicar um regresso à “escola de antigamente” e aos currículos mínimos.

Tal como Nóvoa, não tenho a mínima dúvida, apoiado na minha experiência directa na escola, que devemos (re)valorizar a escola como «organização centrada na aprendizagem», que sugere uma valorização da arte, da ciência e da cultura, enquanto elementos centrais de uma “sociedade do conhecimento”.

Estas ideias, que já foram mais impopulares há meia-dúzia de anos, porque os sinais de alarme e crise surgem todos os dias, vão contra as convicções dominantes. Daí a inexistência de vontade política, por parte das lideranças políticas e escolares, para assumir a resolução da tensão entre a escola social de acolhimento e a escola da aprendizagem, o que está a dar cabo da escola pública e da aprendizagem.

Devido ao fenómeno de democratização (massificação) do acesso ao ensino, um princípio nobre, a escola viu-se perante novos desafios. A escola tornou-se mais social e de acolhimento, ocupou-se menos e secundarizou as aprendizagens, a disciplina, o esforço, o trabalho, assumiu missões sociais de outros e embarcou na ilusão de que a escola poderia regenerar a sociedade, solucionar os seus problemas, criar um homem novo e reparar as injustiças sociais.

Ser um jovem oriundo de um meio social desfavorecido ou ter dificuldades pessoais não é álibi para tornar o seu tempo inútil (e dos outros) na escola, isto é, que estão na escola para trabalhar (ter ou cultivar uma atitude positiva perante o trabalho intelectual), crescerem como pessoas responsáveis e com valores humanos basilares. Para serem pessoas integradas e bem sucedidas e, pelo caminho, tornar o país mais produtivo.

Não concebo que a escola social de acolhimento dispense os valores da responsabilidade, o trabalho e a disciplina por parte dos estudantes que necessitam de ser apoiados nas dimensões pessoal e social. O processo de ensino-aprendizagem precisa de condições prévias para funcionar.

Não se espere, utopicamente, que o professor, empunhando a "varinha mágica" (segundo certos teóricos) da pedagogia, faz aprender quem não se concentra, quem "não quer saber", quem não trabalha, quem não se empenha, quem não respeita, quem não estuda. Como se fosse possível mudar o Homem e o Mundo a partir da sala de aula, independentemente dos contextos. O professor não é um deus.

NDS

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Com humor se ilustra a realidade na escola



Autoridade em crise na escola, bem como muitos outros valores como a responsabilidade, o trabalho e a disciplina, fundamentais para a aprendizagem.

Recorde-se:
Escola "a duas velocidades" é "escola de velocidade nenhuma"

sábado, janeiro 09, 2010

Insucesso escolar vem de longe 4

photo (c)

«Portugueses no Luxemburgo são os campeões do abandono escolar» foi título no Público de 04.01.2010.

Diz a notícia que, «de acordo com o documento [do Ministério da Educação do Luxemburgo], os alunos portugueses, que representam 19,1 por cento da população estudantil, são os que apresentam a maior taxa de abandono escolar entre os estrangeiros: 23,5 por cento do total de estudantes que abandonam a escola.

Entre os estudantes portugueses que deixaram a escola, 53 arranjaram trabalho, 19 beneficiaram de uma medida de inserção profissional, enquanto 106 não tinham qualquer ocupação.

Os alunos portugueses representam o maior grupo entre os estrangeiros que estudam no Luxemburgo. No ano lectivo de 2008/2009 estavam inscritos nas escolas públicas luxemburguesas 24.093 alunos luxemburgueses, 7046 portugueses, 1549 ex-jugoslavos, 963 italianos, 811 franceses, 456 belgas, 436 alemães e 319 cabo-verdianos. No Luxemburgo residem oficialmente 76.600 portugueses.»

Mais uma notícia a dar conta deItalic uma dura realidade que temos vindo a esmiúçar aqui neste blogue:

«Os alunos portugueses na Suiça obtêm os resultados escolares mais baixos entre as comunidades estrangeiras».

«A comunidade portuguesa no Canadá é uma das comunidades étnicas com maiores taxas de abandono e subescolarização.»

«Entre as minorias étnicas, as crianças de origem portuguesa são aquelas que têm os piores resultados escolares», na Inglaterra (área de Londres).

Tudo nestes links:

- Insucesso escolar vem de longe 3 (estudantes madeirenses na Madeira)
- Insucesso escolar vem de longe 2 (estudantes filhos de emigrantes portugueses na Suiça)
- Insucesso escolar vem de longe 1 (estudantes filhos de emigrantes portugueses no Canadá e Inglaterra)

Note-se a saudável mudança do nosso discurso entre os posts Insucesso escolar vem de longe 1 e o 2. Não há como o poder pedagógico da realidade.

Quem não tem experiência directa em escolas ou turmas com alunos indisciplinados e com uma acentuada atitude negativa perante o trabalho escolar (intelectual) nunca dará o real valor das dificuldades que os docentes passam todos os dias, no terreno, nem ao trabalho docente.

terça-feira, novembro 10, 2009

A árdua procura da felicidade

Viriato Soromenho-Marques falou da evolução do conceito de felicidade até à actualmente dominante felicidade mercantil, que não é suficiente para o ser humano ser feliz.
origem da fotografia

A conferência de Viriato Soromenho-Marques, A árdua procura da felicidade, construir a solidariedade na proximidade da solidão, integrada na II Conferência do Funchal: Merecer o Futuro, nos dias 6 e 7 de Novembro, ajudou a perceber o que move as pessoas, actualmente, na sua busca da felicidade.

Conhecer e compreender o que move o ser humano, na sociedade acual, nessa busca da felicidade é importante para os professores. Na escola, interessa ou não distanciar-se dessa «concepção fortemente mercantil de felicidade, que ignora os limites da Natureza e dos ecossistemas e que esquece a complexidade da condição humana, irredutível à voragem insaciável do processo de consumo.» Dessa complexidade humana fazem parte as suas dimensões imateriais, como a ética e a espiritualidade, com um papel fundamental no bem-estar e felicidade do Homem.

A felicidade desvinculou-se de terminadas dimensões humanas para servir a economia de mercado, o materialismo e o consumo. É a felicidade com «programa de realização aqui e agora», e com rapidez, que dispensa planos como o transcendental e o ético.

A felicidade moderna assenta na independência e nos interesses particulares, em que o indivíduo «se afasta da cidadania e se centra no consumo e no conforto.» Ele não se afirma como pessoa, «não deixa marca», é anónimo, perdido na multidão, e «não é reconhecido pelos outros». A felicidade é então uma «demanda individual». Essa afirmação e reconhecimento são estruturantes para o ser humano. Soromenho-Marques disse serem necessárias «escalas de participação» para o indivíduo.

«Nunca houve tanto conforto e tanta gente a sobreviver penosamente», disse o conferencista. A felicidade do hiper-consumo não é condição suficiente para a felicidade. Obedece a pulsões. Temos um consumo sempre crescente e desejos nunca satisfeitos.

Como disse Kant, citado na conferência, a felicidade na posse e na fruição é uma ilusão. Sabemos hoje, decorrente de estudos, que o aumento de rendimento per capita, a partir de dado valor, não traz mais felicidade ao indvíduo. Não lhe acrescenta felicidade.

Além do mais «felicidade não existe de forma estável e permanente».

Como sair do impasse e das várias crises que nos assolam actualmente e nos comprometem a real felicidade? Soromenho-Marques propõe um conjunto de princípios: da comunidade inclusiva, que se estende a todas as criaturas; da solidariedade entre gerações; da humildade prudente (em alternativa à arrogância tecnológica); da simplicidade voluntária na Arte de Viver, deixando espaço para os Outros (Ghandi: «Live simply, so that others may simply live...»); da natalidade como renovação; da cooperação compulsiva e da reconstrução da Acção política numa dinâmica sustentável.

Adriano Moreira, na sua intervenção na II Conferência Internacional do Funchal, sublinhou outro aspecto fundamental: «É preciso que os valores condicionem os valores do saber e do saber fazer». Diria ainda que «não basta informação e saber - faz falta os valores», isto é, a sabedoria.

Recordo José Augusto Fernandes a propósito dessa centralidade dos valores (irrenunciáveis) na nossa existência. À volta dos valores nunca nos enganamos. Estes nunca nos desconpensam ou desequilibram. Dão estabilidade. Quando estamos fora dos valores ficamos muito dependentes.

Nós movemo-nos à volta de centros de existência. Os centros da existência quando são muito móveis (como o consumo) geram instabilidade, insegurança e arrastam as pessoas com eles. Os centros fora do centro dos valores, se falham, conduzem à queda. É mau centro todo aquele que, se falha, arrasta a pessoa.

Mais informação:
Comunicações da II Conferência Internacional do Funchal

sábado, outubro 31, 2009

Resistir à pressão das massas para normalizar a bandalheira nas escolas

O segredo é não ceder aos "desvalores" do facilitismo e do laxismo actuais nas escolas, sem cultura de trabalho, disciplina e responsabilidade. Não se deixar levar pela irresponsabilidade de uma certa esquerda e de uma certa direita no que toca ao peso, para o sucesso escolar, dos valores do trabalho, da disciplina e da responsabilidade individuais dos estudantes.
photo copyright

A mentalidade e contexto social actuais é de complacência geral face ao laxismo e ao facilitismo nas escolas. Quem se atreve a contrariar a moda e o politicamente correcto laissez faire, laissez aller, laissez passer, depressa é apelidado de vários nomes.

Isto vem a propósito da notícia intitulada Rédea curta na escola (Diário 25.10.2009), em que os «alunos da Escola Básica e Secundária do Porto Moniz estão cansados da disciplina e das regras de estudo, de não ter um minuto para descontrair e até já ponderaram a possibilidade de fazer uma manifestação.»

Cansados da disciplina e das regras de estudo... Será que é preciso dizer mais alguma coisa perante o tipo de valores que este gente defende? A malta quer o facilitismo e o laxismo («descontrair») que vê nas outras escolas, em casa e em outros espaços sociais. Daí a revolta contra a escola do Porto Moniz, um caso raro em que querem pôr os estudantes disciplinados e a estudar.

Como refere a notícia, a «agudizar o clima está a decisão do conselho pedagógico em descontar as faltas à sala de estudo na avaliação dos alunos do ensino básico. "É uma coisa mínima», refere o director Valter Correia, «mas a sala de estudo foi uma forma que encontrámos para combater o insucesso. Os alunos não aprendiam porque não faziam os trabalhos de casa, porque não traziam o material adequado. Agora, com a obrigação de ir à sala de estudo fazem os trabalhos de casa e os resultados melhoraram".

Se as medidas põem a malta a trabalhar, a reponsabilizar-se e a estudar, com efeitos evidentes na melhoria dos resultdos escolares (sucesso escolar), não deveriam antes estar gratos? Os valores do bom senso e da gratidão são bens escassos... A malta quer é direitos e nada de deveres, algo comum no pós-25 de Abril de 1974. Quer-se liberdade para a bandalheira, não para assumir deveres e responsabilidades.

Para Valter Correia o «mais importante é actividade lectiva, o estudo e o sucesso dos alunos. "É isso que garante a igualdade de oportunidades".» E questiona-se: "Estou aqui há tantos anos, os métodos são estes há anos e só agora é que se lembraram disto?

Alguns estudantes ouvidos pela jornalista dizem estar «cansados de ouvir discursos sobre os 'rankings' e o sucesso». Isto dá vontade de rir, não dá? Confirma-se que eles não querem saber do sucesso... Então que mudem de escola. Vão para uma escola que não exija rigor, disciplina, trabalho, estudo, responsabilidade. Existem muitas à escolha.

Esses estudantes, note-se bem, queixam-se de se dar prioridade aos «exames nacionais e ao estudo», face a actividades extra (desporto, visitas de estudo e a viagem de finalistas que queriam na Páscoa e a escola permite apenas no Verão). Confirmam de novo que querem festa e convívio antes de tudo, não o sucesso escolar, o trabalho, a responsabilidade. Será que não seguem os exemplos na sociedade? Que geração estamos a formar?

O director da escola refere: "As actividades são autorizadas só não podem comprometer as aulas. Podem fazer à quarta-feira à tarde, quando não há aulas, mas é verdade que não temos aqui as semanas disto e daquilo. Isso é perder tempo para dar os programas e distrair do que é importante". Com toda a razão. Apoio a 100% e elogio a sua coragem de contrariar o politicamente correcto e o facilitismo que se tornou natural nas escolas.

«A mais pequena indisciplina é punida de forma severa», diz o Diário. Não se pense que desatam à reguada na escola... «O director garante que é assim na Escola do Porto Moniz, nenhum tipo de indisciplina, sejam risinhos nas salas, atirar papelinhos ou andar à bofetada no recreio. Tudo é punido para que não fique pior, não se abrem excepções a ninguém. "Por muito inocente que pareçam são sempre uma tentativa de desautorização".»

E não é assim que deve ser? A direcção da escola tem de ter firmeza. Disciplina e firmeza é sinónimo, para a malta do pós-25 de Abril de 1974, de ditadura. O laxismo é de tal ordem que basta uma posição mais firme que deixa logo a malta "oprimida" e auto-apelidando-se de «escravos», como surge num comentário à notícia. Isto é muito revelador da bandalheira instalada.

O problema é Valter Correia ser um caso isolado, no bom sentido, no meio do facilitismo e laxismo geral que grassa pelas escolas da Madeira, do País, da Europa ocidental e da maioria das sociedades do chamado Ocidente. E é difícil remar contra a maré.

Valter Correia tem elevado os resultados da escola, mas afinal não é isso o importante. Interessa é entreter e divertir os alunos com actividades extra, isto é, com fantochada, com fogo-de-artifício, que os madeirenses bem gostam. Deixar a malta regozijar-se na lama do laxismo, em vez de garantirem melhores conhecimentos e competências para serem alguém na vida.

O rigor não é só para os alunos e há professores que não gostam do que lhes cabe. Sem querer ajuizar sobre uma realidade que não conheço bem, pode haver alguns exageros, não sei, penso que os docentes que valorizam as condições de trabalho na sala de aula, sem indisciplina ou má atitude perante o trabalho intelectual por parte dos estudantes, agradecem o rigor.

Quando um colega passou a trabalhar na escola do Porto Moniz disse-me que, em termos de disciplina dos alunos, passou do inferno para o céu, relativamente ao que sucedia na escola anterior. Este docente contraria a ideia que a disciplina e o trabalho estejam a «afastar professores e estudantes para outras escolas», como diz a notícia.

O Diário depois recorda que a «primeira vez que se ouviu falar das boas notas dos alunos da Escola Básica e Secundária do Porto Moniz em exames nacionais foi em 2006, logo depois de se conhecer os resultados das provas do 11º ano.» Na altura, a escola foi a «primeira do ranking regional e o caso mereceu destaque.»

«A disciplina, o estudo, a preocupação em chamar os pais à escola e o controlo às faltas dos professores foram a tónica das declarações do director da Escola numa reportagem publicada na então REVISTA do Diário. Já na altura Valter Correia dizia que era capaz de não renovar contratos a docentes que faltassem muito.»

Aqueles, incluindo escolas e docentes, que menosprezam alguns indicadores dos rankings, apesar de estarem longe de perfeitos e inviesarem algumas leituras mais simplistas, fazem-no porque surgem mal colocados nessa tabela. Então a reacção é atirar os problemas e a realidade para debaixo do tapete. É mais fácil. Assim não precisam de tomar medidas impopulares como Valter Correia.

Este comentário online à notícia, repleta de erros, a indicar que este estudante precisa de mais estudo e rigor, deixa tudo à mostra: «uma forma mais facil, divertida, com mais tempo para a vida adulscente, e outras coisas mais...Querem fazer todo da forma mais dificil, e sem se divertir...a vida acaba rápido...é perto dos 30 anos que se vai divertir..fazer coisas que eram supostas fazer na joventude, como ir a discoteca».

A malta quer é vida «fácil» e «divertida» porque a «vida acaba rápido»... Estudar, ser responsável, ter uma boa atitude perante o trabalho escolar não interessa para nada.

Mas, há outros comentários mais sérios, que não apelam ao facilitismo e ao laxismo: «Eu fui aluna nessa escola, já tirei um curso, actualmente já trabalho e tudo devo a esse PROFESSOR VALTER. Talvez se ele não tivesse tido mão pesada sobre a minha pessoa, não tivesse imposto regras, eu não fosse o que sou hoje: uma pessoa com oportunidades. Se há alguém que marcou positivamente o meu percurso pessoal e académico foi ele. Continue o bom trabalho! Oxalá houvessem mais escolas e professores como nessa escola.»

Outro ainda: «Afinal, o problema não é o professor ou a Escola!!! O problema é o cumprimento das regras, que, pelos vistos, os alunos não querem perceber. Pois... Então querem ter direitos e não cumprem os seus deveres? Se cada um de nós, como pessoa, cumprisse com as suas obrigações, a vida seria muito mais agradável, mais feliz, aproveitaríamos bem esta liberdade. Agora, apenas exigir menos rigor, sem nada fazer para tal, é absurdo. Que tal se começassem a cumprir com as regras? Já pensaram nisso? Experimentem! Não dói nada e fará de cada um de vós uma pessoa melhor e muito mais preparada para a vida.»

Recorde-se:
Menor qualidade e fraca atitude dos estudantes madeirenses
Indisciplina por resolver nas escolas da Madeira
Gastar mais e ter dos piores resultados
Insucesso escolar vem de longe 3
Insucesso escolar vem de longe 2
Insucesso escolar vem de longe 1
Laxismo e facilitismo significam exclusão social
Leste arrasa postura desculpabilizante