domingo, setembro 10, 2006

O que é o FAZER +





Era uma vez
O inconformismo perante o insucesso escolar e educativo despoletou a criação do Fazer +, em 2004, no Departamento Curricular de Línguas da Escola Básica e Secundária da Calheta, deixando, entretanto, de estar confinado a um departamento. Perante os problemas concretos procuramos as respostas e as soluções possíveis de alcançar. Estamos cheios de imperfeições e não temos medo de errar, porque o erro é pedagógico e uma mola para a melhoria. Ficar imóvel e acomodado não é opção.

Na altura, foi criado o «projecto de acção» denominado Fazer + por quem carrega um sinal menos, «a fim de procurar-se construir alternativas de forma a dar resposta à heterogeneidade dos alunos, sem os discriminar em grupos por critérios como o insucesso escolar ou repetência», como se pode ler em acta de dois de Junho de 2004. O coordenador do Departamento Curricular de Línguas de então «deixou o convite e o desafio para quem desejar aderir ao projecto», tendo trabalhado até 2006 um pequeno núcleo de três docentes: Conceição Mota, Sofia Sousa e Nélio Sousa. No ano lectivo 2006-2007, o Fazer + passou a integrar o tempo da componente lectiva de estabalecimento e a contar com o fazer de mais docentes, de qualquer área curricular, como é óbvio, num novo impulso. As sementes lançadas em 2004 foram germinando, procurando-se lançar mais sementes à terra.

O quê e porquê
O Fazer + é um projecto de actividade pedagógico-educativa. É um projecto de empenho pelos outros, na medida em que a «Educação existe para melhorar as vidas dos outros e para deixar a nossa comunidade e o mundo melhor do que os encontrámos» (Marian Wright Edelman). E ao ser pelos outros é por nós mesmos: as recompensas do empenho e de um trabalho pedagógico progressivamente afinado e melhorado, incluindo o desempenho e os resultados académicos dos jovens da escola, são motivação e realização profissionais (acrescidas), para os docentes.

Os professores e a pedagogia não podem tudo, mas interessa que cada um de nós faça a sua parte. O essencial da acção do Fazer + acontece na esfera da prática pedagógica de cada professor participante no projecto: preparação, investigação, reflexão, avaliação e concretização da actividade lectiva. É uma espécie de laboratório e oficina de reflexão e conhecimento (investigação-acção-formação), ancorado na prática do professor, com um sentido muito objectivo e prático, de actuação sobre a realidade e os problemas concretos.

Pelo caminho, importa alertar e envolver outros actores, além dos docentes, no sentido de fazerem ou fazerem melhor a sua parte. Porque temos a consciência que o sucesso escolar e educativo, o sucesso no espaço de ensino-aprendizagem (que não é asséptico ou um limbo à parte da realidade de cada pessoa e comunidade), não se resume nem depende só da acção do professor. Muita coisa, fora e dentro da escola, determina o processo de ensino-aprendizagem. Embora os professores operem alguns "milagres".

O projecto não está focalizado na espectacularidade ou na visibilidade exterior. Numa consequência natural, acaba por reverter e ser visível para a comunidade educativa, na sua filosofia de partilha de ideias e práticas educativas, através de acções de formação, encontros, debates e outras iniciativas na nossa escola ou fora dela, além desse instrumento de divulgação que constitui a página electrónica. Mas mantendo a sua clandestinidade ou invisibilidade social. Um segredo entre educadores. É preciso sossego para trabalhar e construir. O Fazer + não faz promessas. Actua na medida do possível. É um projecto low profile e de baixa intensidade, que coze em lume brando. Os holofotes podem toldar a visão e o pensamento das pessoas. Podem mesmo destruir. Os holofotes não são a razão de ser de um projecto educativo.

Não pretendemos transformar o mundo. Basta-nos lançar sementes, que mais tarde ou mais cedo algumas dessas sementes farão o seu caminho (ou não, mas isso não importa porque fazer a sementeira é já uma recompensa). Os educadores «democráticos radicais», com uma «consciência inquieta e crítica», com esperanças, sonhos, horizontes utópicos, acreditam que o seu falar e o seu agir pode fazer diferença. Sem fundamentalismo, com compreensão crítica, pensamento racional e investigação na acção concreta. Sem recusar o que de positivo têm os modelos do passado ou do presente. Sem que o bom professor corresponda a um único modelo (os bons professores não têm de ser iguais ou todos "revolucionários".) Não se pretende substituir o actual "modelo único" por outro modelo único. Cada professor, cada escola, cada comunidade deve encontrar o seu próprio modelo.

Os obstáculos e as resistências fazem parte do processo (estímulo à criatividade) e confirmam a necessidade de inovação, de alternativas, de práticas transformacionais. É assim quando novas lógicas se debatem com a lógica dominante. A fantasia deixa de ser fantasia quando ganha corpo. A Escola da Ponte, por exemplo, seria uma utopia e uma fantasia impossíveis se não existisse. A escola inclusiva e de sucesso para todos os jovens de uma comunidade é, afinal, possível e não uma fantasia irrealizável.

O diagnóstico dos problemas na Educação está há muito tempo feito, seja pelos relatórios da OCDE seja pelas evidências da realidade com a qual contactam os professores todos os dias, na prática pedagógica concreta. Além do insucesso e abandono escolares, indisciplina e violência, há a desmotivação, o consumo de substâncias ilícitas e os docentes a adoecer emocionalmente, em maior número.

Que paradigma de escola-ensino-educação-aprendizagem pode, além da preparação ao nível científico, contribuir mais para o desenvolvimento pessoal e para a formação na cidadania de todas as crianças e jovens? Para termos pessoas autónomas, empreendedoras e capazes de pensar pela sua própria cabeça.

Para quê
O objectivo é a formação integral do ser humano. Formação científica (ferramentas para sobreviver: ter um emprego e condições dignas de vida), pessoal (ferramentas para ser feliz: gestão e bem-estar emocionais) e cidadã (ferramentas para agir e construir socialmente, em comunidade, na relação com os outros).

É o que está preconizado pelos documentos fundamentais mas pouco praticado como denunciam os resultados, as estatísticas, os estudos. O desafio é colocar em prática. Para isso, há professores que querem fazer + e querem fazer melhor.

O fazer + desenvolve a sua acção, seguindo a metodologia de Investigação/Acção/Formação, em coerência com o diagnóstico dos problemas e a Educação integral de todos os jovens, nas seguintes vertentes, embora faça parte de uma única coisa – a Educação:

1. Área pedagógica (metodologias capazes de dar novas respostas e ajudar a resolver insucessos, abandonos, inadaptações, desmotivações e indisciplina)

2. Área de desenvolvimento, saúde e bem-estar pessoais (relação, comunicação, auto-conhecimento, gestão emocional)

3. Área de cidadania (autonomia, pensamento próprio, iniciativa, empreendedorismo, integração e construção em comunidade)

Referências
O Fazer + trabalha para uma escola inclusiva, que assegure, na prática, mais oportunidades de acesso ao sucesso educativo a todas as crianças e jovens. Sem vias de exclusão, sem discriminar, sem seleccionar ou reproduzir socialmente. É hora de democratizar o sucesso escolar e educativo, em referência a uma política de direitos humanos que procure garantir as mesmas oportunidades educacionais e de realização pessoal para todos, sem que signifique todos os jovens fazerem o mesmo. Diferenciar sem discriminar ou retirar dignidade. É nesta direcção que propomos caminhar: de uma escola pública para todos, equitativa, inclusiva, solidária, autónoma e democrática. O caminho, esse, faremos caminhando.

Trabalha-se para uma escola que privilegie a interacção comunicativa, a cooperação, a vivência e cidadania democráticas, a autonomia dos sujeitos. Busca de oásis de oportunidades no deserto das desigualdades. É a esperança transformada em acção, em sementeira.

O Projecto da Escola da Ponte, sob a orientação de José Pacheco, o Movimento da Escola Moderna, fundado por Sérgio Niza ou o projecto S.O.F.I.A., criado por José Augusto Fernandes, são realizações concretas e de sucesso, em Portugal, que constituem referências do Fazer +.

Outros pensadores como Rubem Alves, Paulo Freire, Miguel Santos Guerra ou Philippe Perrenoud são algumas das referências.

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