quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Laxismo e facilitismo escolares significam exclusão social

Parafraseando Maria Filomena Mónica, sob a capa de um falso igualitarismo e inclusão balofa, «aniquilam a única oportunidade que os filhos dos pobres têm de sair do buraco onde nasceram.»
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Quando anda toda a gente com o discurso politicamente correcto da escola inclusiva, poucos são os que se apercebem da contradição com a realidade.

A NOSSA ESCOLA portuguesa (e madeirense) do nivelamento por baixo, do laxismo e facilitismo estudantis, do discurso do coitadinho e da "sociedade/civilização fonte de todos os males", da indisciplina e ausência de trabalho generalizados nas salas de aula, entre outros factores, é TUDO MENOS INCLUSIVA. Aliás, exclui duplamente os estudantes e ainda descredibiliza a escola pública.

E porquê? Porque quem precisa mais da educação, quem parte em desvantagem, que são as classes menos letradas, cultural e socialmente menos favorecidas, não encontram na escola o nível de exigência e de ensino que lhes permitiria aceder à mobilidade e ascensão social. Porque não conseguem afirmar-se pela inteligência e pelo conhecimento. Acabam muitos na escolaridade mínima, no abandono e no insucesso escolares, isto é, na exclusão pura e dura.

Há românticos (ou antes malabaristas) que conseguem ver nisto inclusão... e, pasme-se, justiça social... Ó povo enganado...

Desidério Murcho refere ser «evidente que quem tem a ganhar com um mau ensino generalizado, em que todos os estudantes passam [passar sem saber devido ao nivelamento por baixo], é quem tem privilégios», as elites.

O mesmo professor afirma que o «filho de um professor universitário ou de um médico tenha uma educação miserável na escola é muito pouco importante porque a tem em casa; mas para o filho do pedreiro, é muito grave: se não a tem na escola, não a tem em lado nenhum

O resultado é este: «os filhos dos que não pertencem às elites, mesmo que sejam mais inteligentes do que os outros, vão ficar sempre para trás.» E um «sistema em que apenas as elites têm acesso à educação é um sistema pior porque nesse sistema pessoas muito mais inteligentes do que os que pertencem às elites não podem desenvolver todo o seu potencial, porque são à partida excluídos.» (LER MAIS)

Ensino mais pobre é igual a dupla exclusão (não se dão ferramentas para as pessoas governarem a sua vida no futuro). E não me venham com as cantigas desculpabilizantes (do facilistismo por parte de quem aprende) do costume.

Medina Carreira, que foi ministro das finanças do I Governo Constitucional (1976-1978), liderado pelo Partido Socialista, corrobora: «o problema é este: aqueles que precisavam de ser objecto de exigência e da aprendizagem, que são aqueles das classes mais baixas, eles vão ficar tão preparados que serão de classes mais baixas amanhã. Os seus filhos vão ser de uma classe média, como a minha filha é. É que nós estamos a manter esta estratificação, exactamente não ensinando àqueles aos quais precisaríamos de exigir... Porque aqueles que estão em baixo é que precisam ser trazidos para cima. Não é dizer: Coitadinhos, não aprendam nada, vocês não têm culpa de nada, são uns desgraçadinhos, agora continuem... Não, não! Esses é que têm que ser puxados, não são as suas filhas ou a minha.»

E vai mais longe: «Se os pais tivessem a noção do mal que estão a fazer aos filhos; e se os filhos tivessem a noção da hipoteca que os políticos estão a lançar sobre eles - no futuro vão ficar uns ignorantes, na maior parte dos casos - eles já tinham vindo para a rua protestar. Não eram os sindicatos! Eram os meninos.»

Maria Filomena Mónica, catedrática que criticou severamente o ensino do Estado Novo e sempre se assumiu como esquerdista (liberal), diz bem que, «sob a capa da retórica igualitarista, aniquilam a única oportunidade que os filhos dos pobres têm de sair do buraco onde nasceram.» E conlcui: «se a correlação entre educação e crescimento económico é falsa, a existente entre classe social e êxito escolar é uma realidade.»

Numa livraria perto de si:
Os Filhos de Rousseau (Relógio d’Água, 1997) > Maria Filomena Mónica
Eduquês em Discurso Directo (2006) > Nuno Crato
A Lógica dos Burros (Publicações Europa-América, 2007) > Gabriel Mithá Ribeiro

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