quinta-feira, junho 21, 2007

Mitos e erros sobre a profissão docente 1

Vamos começar pelo mito da vocação, citando Miguel Santos Guerra e depois confirmando com palavras recentes de Álvaro Siza Vieira, um dos mitos que sustentaram e sustentam a prática profissional do ensino.

Ter uma base de verdade não é igual a «elevar à categoria de dogma» E muitos mitos e dogmas «emprobreceram e falsificaram as práticas docentes e desvalorizaram um exercício profissional de extraordinária importância e complexidade», como nota o professor espanhol acima citado.

«O professor nasce, não se faz: o mito da vocação provocou muitos danos à profissão docente. Parecia dizer-se: "Como já nasceu para essa tarefa, não é preciso formá-lo. Como gosta de fazer o que faz, tem bastante sorte, nem é preciso pagar-lhe". Consequentemente, não necessitamos de formar o que não tem vocação. Que importância tem fazê-lo se carece de vocação?

Não digo que não seja necessária uma disposição favorável, um compromisso com a prática, um desejo de fazer a tarefa com ilusão, mas outra coisa é esse conceito meio mágico, meio religioso, meio místico de vocação (cuja etimologia procede do verbo vocare, ou seja, "chamar"; tem vocação o que é chamado para... Não se sabe muito bem quem faz a chamada nem como se pode escutar).

Penso que o professor se faz [não nasce] e faz-se com um formação autêntica, tanto teórica como prática.»
(Miguel Santos Guerra, No coração da escola - estórias sobre a educação, pp36-27, ASA Editores).

Agora, atente-se ao pensamento do arquitecto Álvaro Siza Vieira, no Público (15.06.2007):
«Não acredito nessa coisa da vocação. Acredito em influências que canalizam para determinados interesses, mas não acredito que fulano nasceu para arquitecto, ou cicrano para médico. Interessou-se, estudou, houve uma convergência de razões que o levaram a fazer aquela opção. Ou às vezes até por acaso. Já contei não sei quantas vezes que eu não queria ir para arquitectura.»

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