Quando as reformas políticas na Educação procuram resultados no laxismo e no facilitismo...
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Marco Gomes, director da Escola da APEL, escola privada madeirense, que durante cinco anos foi director pedagógico do Colégio Manuel Bernardes em Lisboa refere no Diário (30.10.2008):
«Não tenho dúvidas de que os alunos madeirenses são diferentes dos de Lisboa», onde a «competição, o esforço e o tempo dedicado aos estudos era muito maior». Acrescenta que não é fácil motivar quem chega desinteressado, «quem não está disposto ao sacrifício e a estudar».
A realidade é que 32 anos após o 25 de Abril de 1974 «continuamos a ter escolas da Madeira entre as piores, depois do investimento em infra-estruturas» e com um «quadro docente habilitado. É tempo de ver onde estão as nossas falhas».
Quem trabalha nas escolas sabe que a atitude perante o estudo, isto é, face ao trabalho intelectual, tem piorado na última década.
As melhores instalações das escolas e a habilitação dos docentes não resolveu o insucesso escolar. Prova que as condições (ambiente) de trabalho na sala de aula são mais determinantes do que as condições físicas dos estabelecimentos de ensino.
De que serve ter melhores edifícios e melhores professores se as famílias não valorizam o conhecimento e a escola? Se os estudantes têm uma atitude negativa perante o trabalho intelectual? Se grassa a indisciplina (camuflada) nas salas de aulas, como se tudo fosse normal, criando um enorme ruído e obstáculos ao processo de ensino-aprendizagem?
Quem aprende Matemática, por exemplo, sem se concentrar, sem se esforçar, sem estudar? Qual é a pedagogia, qual é o professor e quais são as condições físicas dos edifícios que fazem o estudante aprender sem trabalhar?
Estamos à espera de um milagre? Ter resultados sem que exigir trabalho, estudo e disciplina aos estudantes? Sem reponsabilizar as famílias?
Seria bom fazer um estudo sociológico para confirmar, cientificamente, aquilo que já se tem defendido por aqui.
Contudo, não aceito responsabilizar esse caldo socio-cultural por todos os males da Madeira, neste caso os maus resultados escolares no contexto nacional. Por outras palavras, os obstáculos socio-culturais de partida não podem ser usados como álibi para a ausência de esforço ou empenho do estudante no trabalho escolar de aprendizagem.
Recuso justificar a inacção e a irresponsabilidade individuais, transferindo as culpas apenas ou basicamente para a esfera social. Estou cansado da cantiga do costume de culpar a sociedade (e o sistema) por tudo o que de mal acontece aos indivíduos. O contexto social tem o seu peso, mas o indivíduo tem uma palavra a dizer e um papel a desempenhar no superar desses obsctáculos.
Feita esta ressalva, sabemos, como já aqui se tem dito, da realidade das baixas (ou ausência de) qualificações, da insularidade, ruralidade, chagas sociais como o alcoolismo, a violência doméstica ou bolsas de pobreza e analfabetismo (o clássico e o funcional), os poucos estímulos para a disciplina, treino, rigor e amadurecimento do raciocínio (recorde-se A lição de Monteiro Diniz), a escassa cultura de trabalho (empenho), a desvalorização do saber, da escola e da actividade intelectual, a desigualdade de oportunidades, o nivelamento por baixo, a não valorização de nada além do horizonte futebol-bar-sobrevivência, o não privilegiar nem reconhecer da competência, o domínio do tráfico de influências em lugar do mérito no acesso ao emprego e à mobilidade social, entre outros. Factores que têm o seu peso no insucesso escolar numa sociedade como a madeirense, em particular, ou a sociedade portuguesa, no seu todo.
O ambiente na Região é pouco competitivo. As oportunidades são escassas, os estímulos são limitados, o espaço para as pessoas crescerem e progredirem é reduzido.
Será que a política de festas, futebóis e diversão generalizada constitui estímulo para mudar a mentalidade e a atitude perante o trabalho escolar por parte da sociedade madeirense?
Ilidio Sousa refere o seguinte, num comentário deixado num outro blogue:
«Talvez já tivéssemos uma resposta para muitas das questões que colocamos se estudássemos os seguintes factores e variáveis:
- Factores sociais como os hábitos, projectos e estilos de vida no seio da família, a linguagem, as atitudes face ao conhecimento e à escola, as condições de vida (alimentação, vestuário, horários), o acesso a bens culturais como livros, jogos e novas tecnologias, a zona de residência no que diz respeito às condições comunitárias de lazer, serviços e vida associativa.
- Factores directamente relacionados com as dinâmicas internas das escolas e com as políticas educativas, como, por exemplo, a estrutura do currículo escolar, os manuais escolares, os métodos de avaliação, a qualidade dos espaços e dos equipamentos escolares, a formação e a estabilidade do corpo docente, a dimensão das escolas e das turmas.
- As variáveis pessoais dos alunos (motivação, capacidades, atitudes em relação à escola e às aprendizagens).
- As variáveis pessoais do professor (competência científica e pedagógica, personalidade).
- As interacções educativas entre professores e alunos (comunicação, liderança, métodos de ensino e de avaliação).
- O ambiente relacional na escola (relacionamento interpessoal, dinâmica e trabalho em equipa, clima institucional, liderança e coordenação).
As respostas podem não agradar a todos, mas já é tempo de sabermos onde está o problema!!!»
quinta-feira, novembro 13, 2008
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