quarta-feira, abril 29, 2009

Onde falhamos nós, no público

Continuamos iludidos ao pensarmos que a permissividade e o laxismo incluem. Pelo contrário, excluem porque não prepara as pessoas para a vida. Sobretudo quem depende da escola pública para a sua formação.
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Numa notícia intitulada «Ensino privado convida alunos a sair», no Público de 29.03.2009, lemos o seguinte: «É no sistema de ensino privado que o domínio das atitudes e dos valores pode prejudicar os alunos, sobretudo quando se portam mal, dizem os especialistas contactados pelo PÚBLICO.»

Sem defender soluções radicais (permissividade ou autoritarismo), a realidade é que as escolas privadas resolvem os problemas de indisciplina. A disciplina e o empenho são pré-requisitos.

Na escola pública, em nome da inclusão, reina a permissividade (a boa atitude perante o trabalho escolar e o bom comportamento não são pré-requisitos: tem de ser o professor a inventá-los... e se não os "conquista" é incompetente...) e não há consequências relevantes para o estudante indisciplinado, que continua a prejudicar a sua aprendizagem (a cultivar a sua auto-exclusão) e as aprendizagens dos restantes alunos da turma (privá-los do direito à boa aprendizagem: mais exclusão).

Continua a notícia referida: «"Nos colégios, muitas vezes, os comportamentos quando são negativos têm um reflexo maior na classificação. Nas escolas públicas, como os problemas do comportamento se associam a outros, a escola tenta não penalizar os alunos, porque eles já estão em risco", explica Isabel do Vale, psicóloga na básica 2/3 Patrício Prazeres, em Lisboa.»

«É a "cultura da escola", aponta o professor universitário José Morgado. "O pai, quando opta pelo privado, não está disposto a pagar pelo insucesso e o colégio não está disponível para resolver problemas de comportamento. Nas públicas, não podemos falhar, porque a maioria dos pais não pode ir comprar qualidade de ensino [às privadas]", justifica.»

O Público da data mencionada dizia ainda: «O director da Escola Técnica e Liceal Salesiana de Santo António, no Estoril, padre Joaquim Teixeira da Fonseca, confirma que, se um aluno "está a prejudicar e não está a aproveitar, é avisado, é convidado a trabalhar e, quando não quer, é convidado a sair".»

«As consequências do mau comportamento devem ser imediatas e não reflectirem-se na nota, defende João Lopes, da Universidade do Minho. Castigar através das notas "é muito primário" e não traz benefícios ao aluno, que pode desmotivar-se e ter insucesso, aponta a psicóloga clínica Maria João Santos, do Espaço para a Saúde da Criança e do Adolescente, em Lisboa.»

Para concluir, eu não compreendo como se pode ter uma escola privada para preparar bem as pessoas, do ponto de vista das atitudes, valores e do trabalho, e insistimos num modelo de escola pública que, em nome de uma pseudo inclusão, neglegencia tais aspectos.

Se pensarmos bem, o ensino público deveria ser mais exigente do que o privado, porque a maior parte dos estudantes que frequentam a escola pública dependem dela (da formação que proporciona ou deveria proporcionar) para serem alguém na vida, para acederem à mobilidade social.

Quem frequenta o ensino privado tem outras alternativas, para além do contexto familiar e social favorável, que torna estes estudantes menos dependentes da escola para vencer na vida. Na escola pública, os estudantes em geral dependem mais dela para evoluírem. E sem disciplina e trabalho por parte do estudante, dificilmente a escola pública ganhará credibilidade e cumprirá o seu papel.

«Nas públicas, não podemos falhar, porque a maioria dos pais não pode ir comprar qualidade de ensino [às privadas]"», como se diz muito bem na notícia, mas a verdade é que a escola pública do laxismo e da permissividade crescentes está a falhar. Para meu desapontamento. Está tudo montado de cima a baixo para não haver disciplina e uma boa atitude perante o trabalho escolar por parte de quem aprende. Para não haver condições de ensino-aprendizagem.

1 comentário:

Isabel Preto disse...

Concordo inteiramente! A demasiada permissividade não leva a sucesso algum, por causa dessas e doutras...temos a escola que temos!