quarta-feira, julho 08, 2009

«Esforço e estudo», receita a ministra

Já não era sem tempo a ministra da Educação reconhecer a centralidade do esforço e do trabalho dos alunos para a obtenção de bons resultados escolares. Por vezes, é difícil de ver o óbvio e resistir ao mais fácil: culpabilizar os professores de tudo, até da atitude negativa generalizada dos estudantes perante o trabalho (escolar) na escola pública.
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Elogio hoje o sentido de realidade e bom senso da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, na sequência de uma intervenção no telejornal das 13h na RTP1.

«Não há melhoria escolar sem mais esforço e mais estudo» dos estudantes, disse a ministra a propósito dos resultados dos exames nacionais hoje publicados. Mais adiante, insistiu: «os resultados escolares são sempre explicados por mais trabalho e mais estudo

Aleluia. Finalmente, o bom senso começa a imperar e responsabilizam-se os estudantes pelo peso do seu trabalho nos resultados escolares. Trabalho, Responsabilidade e Disciplina são valores, a nosso ver, estruturantes do sucesso de qualquer estudante na escola e de qualquer pessoa na vida.

Todavia, o discurso de Maria de Lurdes Rodrigues tem de ser mais coerente com a prática governativa, que tem sido laxista e facilitista relativamente ao papel dos estudantes no processo de aprendizagem e nos seus resultados escolares, nomeadamente quanto aos sinais dados pelo estatuto do aluno, mas que tem sido de mão dura para os professores, transformados em bodes-expiatórios de todos os males do sistema de ensino, ainda por cima acentuando a desautorização/desvalorização pública dos docentes.

De qualquer modo, saudamos a posição da ministra (esperamos não ser algo meramente circunstancial), que vai ao encontro de muita coisa que por aqui temos escrito nos últimos anos e, especifiamente, do que escrevemos há poucos dias:

«A complacência e a não exigência de esforço, trabalho, responsabilidade e disciplina nunca fará evoluir o estudante desmotivado, com menor cultura/apetência para o estudo, e nunca será sinónimo de escola inclusiva. Ter os alunos dentro dos muros da escola não significa, necessariamente, inclusão, se estiverem excluídos da aprendizagem, do saber, das competências que precisam para a vida e que a sociedade actual exige. Se estiverem excluídos dos valores da disciplina, do rigor, do trabalho e da responsabilidade estarão excluídos da vida real.»

E concluímos: «Em vez de se tentar reinventar a roda, aquilo que é óbvio e já existe, coloquemos as pessoas a trabalhar nas escolas para aprenderem mais e melhor. Além disso, claro, apliquem-se modelos de diferenciação pedagógica, prestem-se apoios, valorize-se a singularidade, mas NUNCA se dispense o trabalho, a disciplina e a responsabilidade do estudante no seu próprio percurso escolar, porque esses valores são os alicerces do seu progresso e sucesso. Não há modelo de organização pedagógica que dispense essas pressimas/valores no estudante.»

O tempo acabará por reconhecer a razão, mas até lá e, sobretudo, até a consciência dos problemas se traduzir em mudança no terreno, continuam os docentes a sofrer as pressões da indisciplina, da irresponsabilidade e da atitude negativa dos estudantes perante o trabalho escolar, bem como a serem culpabilizados pelos resultados escolares que não podem surgir apenas do trabalho do professor.

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