terça-feira, junho 30, 2009

Roda já está inventada

Apliquem-se modelos de diferenciação pedagógica, prestem-se apoios, valorize-se a singularidade, mas NUNCA se dispense o trabalho, a disciplina e a responsabilidade do estudante no seu próprio percurso escolar, porque esses valores são os alicerces do seu progresso e sucesso. Ignorar isto é render-se ao facilitismo, à ilusão e à exclusão.
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João Formosinho deu uma entrevista ao Jornal da Madeira (29.6.2009) e levanta algumas questões importantes.

Destacamos esta frase, pela sua centralidade: «Não podemos viver [na escola] num oásis à parte em que todos nós somos iguais e carinhosos uns com uns outros porque sabemos que a sociedade [isto é, a realidade] não é assim».

Saudamos este pragmatismo deste professor catedrático do Departamento de Ciências da Educação da Criança do Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho. Apesar de a escola pública ter de atender e dar resposta aos vários públicos estudantis, com diferentes pontos de partida, culturas, interesses, objectivos e ritmos de aprendizagem (em que o professor tem tanto de avaliar o progresso dos estudantes como seleccionar os melhores), uma coisa é certa:

NÃO pode haver qualquer cedência no que toca à atitude dos estudantes perante o trabalho escolar, à exigência de empenho e disciplina para que se criem condições básicas para o bom decorrer do processo de ensino-aprendizagem.

Ser um estudante desfavorecido social e culturalmente ou ter problemas emocionais deve dar direito aos apoios possíveis, na escola e fora dela, para que se minimizem as inadaptações desses estudantes à cultura escolar e se compense o facto de partirem mais tarde ou mais detrás do que outros estudantes, nomeadamente aqueles oriundos das classes médias e médias-altas.

Ser um estudante desfavorecido social e culturalmente ou ter problemas emocionais NÃO deve nem pode dar direito à atitude negativa perante o trabalho escolar, à indisciplina, à irresponsabilidade, ao laxismo e ao facilitismo.

Bem pelo contrário, a complacência e a não exigência de esforço, trabalho, responsabilidade e disciplina nunca fará evoluir o estudante desmotivado, com menor cultura/apetência para o estudo, e nunca será sinónimo de escola inclusiva. Ter os alunos dentro dos muros da escola não significa, necessariamente, inclusão, se estiverem excluídos da aprendizagem, do saber, das competências que precisam para a vida e que a sociedade actual exige. Se estiverem excluídos dos valores da disciplina, do rigor, do trabalho e da responsabilidade estarão excluídos da vida real.

A escola de massas e para todos não tem de significar a decadência da qualidade da escola, o que seria uma contradição com aquilo que o tempo actual exige. Há um conhecimento geral e básico que todos devem ter, ponto final. Ser pobre não é impedimento para a criança e jovem ser disciplinado, responsável e empenhado (trabalhador) na escola.

O resultado é que, desde às classes sociais mais desfavorecidas às mais altas, embora por razões diferentes, estão todos descontentes com a escola pública. O laxismo e o facilitismo falsamente inclusivo e integrador não serve a ninguém.

Os modelos de organização, de avaliação, de ensino, os currículos, entre outros aspectos, podem ser alterados, mas nada disso assegura que quem não queira aprender, seja indisciplinado e tenha uma má atitude perante o trabalho escolar aprenda algo de válido.

Em vez de se tentar reinventar a roda, aquilo que é óbvio e já existe, coloquemos as pessoas a trabalhar nas escolas para aprenderem mais e melhor. Além disso, claro, apliquem-se modelos de diferenciação pedagógica, prestem-se apoios, valorize-se a singularidade, mas NUNCA se dispense o trabalho, a disciplina e a responsabilidade do estudante no seu próprio percurso escolar, porque esses valores são os alicerces do seu progresso e sucesso. Não há modelo de organização pedagógica que dispense essas pressimas/valores no estudante.

Os três motivadores que existem é o interesse (amor), esperança e medo. Quando o estudante não gosta da disciplina, não tem esperança ou perspectiva que isso lhe traga algo de bom no futuro, resta o medo. Daí que transformem os professores em polícias (medo) na sala de aula. Entretanto, aprende-se pouco e mal. É o deixa andar até à implosão.

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