Depois da introdução feita por nós (ver aqui em slideshow), para desafiar os presentes para o debate com alguns factos e ideias estratégicas, o director regional de Educação, Rui Anacleto, salientou desde logo que a escola reflecte o que se passa na sociedade, mas não aceita a via do facilitismo («escola lúdica») porque a Região e o País precisam de pessoas qualificadas. Mencionou os prejuízos que a equipa ministerial anterior trouxe para a autoridade dos professores, culpabilizados de tudo o que estava mal na Educação.
O professor Valter Correia (ex-director da Escola B+S do Porto Moniz) definiu a indisciplina em sala de aula como tudo o que põe em causa o bom ambiente (a concentração) para o decorrer do processo de ensino-aprendizagem. Acentuou que a Educação é um assunto demasiado sério - enquanto pilar da democracia e garante da igualdade de oportunidades - para haver complacência face à indisciplina, numa actuação que deve ser sobretudo racional e pragmática.
Este orador referiu ainda que o acompanhamento da família é a base, o fundamental, tendo depois os alunos e os professores a sua parte de responsabilidade. A liderança dos professores em contexto pedagógico e das escolas foi realçado. Sugeriu mesmo mais formação para os docentes neste âmbito. Afirmou ainda que o aluno indisciplinado «não tem o direito de pôr em causa o direito dos outros à aprendizagem.» Para si, «consentir a indisciplina não ajuda o aluno.»
Outro orador, o Subcomissário da PSP Simão Freire, a propósito do peso da liderança do professor, fez notar que «não existe liderança sem autoridade: só se é líder quando há autoridade».
Tendo como referência a sua experiência no Colégio Militar, onde «não há mimos nem comodidades», salientou a importância da responsabilidade/responsabilização já que os «menores hoje não se sentem responsabilizados.» Falou dos valores morais/sociais que formam o carácter e de como o que define uma pessoa não é tanto a violação da regra mas sim a «forma como ela encara essa falha.» Porque são os valores que impedem de violar as regras e não a existência das regras em si. Quando não há valores pessoais que impeçam a indisciplina, a pessoa indisciplinada assume as consequências.
O seu lema é responsabilizar e não flexibilizar (muito menos ter uma atitude complacente e desculpabilizante, como também sublinhou Valter Correia, seja qual for a realidade social e cultural do aluno: «o aluno falhou, pagou», disse este professor).
O pároco Silvano Gonçalves, na sua intervenção, resumiu o problema desta forma: «a disciplina mais eficaz é preparar as pessoas para o sentido da importância do outro.» O problema, diríamos nós, é o ego desmedido de muitos indisciplinados que a última coisa que querem saber é precisamente do outro...
Marco Vasconcelos, atleta olímpico, deu conta da muita indisciplina também no desporto: a «cultura da disciplina perdeu-se.» E isso compromete os resultados desportivos. Sofia Canha, a moderadora, observou que o desporto é uma actividade para a qual os jovens têm maior predisposição, mas que mesmo assim não escapa à indisciplina... Agora imagine-se quando não há predisposição nenhuma para o trabalho intelectual/escolar os níveis que a indisciplina atinge...
A psicóloga Sara Silva referiu que os limites e hábitos desde que a criança nasce determinam a aquisição de competências sociais e auto-disciplina. Mais referiu que a disciplina exige uma acção sistémica, em que cada actor faz a sua parte, e que a liderança democrática é o modelo de liderança que melhor serve o meio escolar e familiar.
A este propósito Simão Freire referiu que o tipo de liderança deve adequar-se ao público que temos à nossa frente. Acrescentaríamos que o professor tem sempre vinte e tantos alunos à sua frente, que requerem diferentes estilos de liderança quase em simultâneo...
Indisciplina nas escolas, breve enquadramento |
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