José Pacheco, mentor da Escola da Ponte, desassossegou as consciências durante a conversa na Calheta - Centro das Artes, hoje, perante uma sala lotada.
«Não aceitais o que eu digo; pensai pela vossa cabeça», disse às tantas José Pacheco. E falava a sério. Nada de seguir receitas e modelos. «O melhor método é o que resulta», disse. E nada de facilitismos (há aqueles que tentam conotar as abordagens progressistas com laxismo): «a escola é um lugar de esforço. Os alunos da Ponte trabalham que se fartam.» A utopia do sucesso escolar e educativo, para todas as crianças de uma comunidade, afinal realizável, não se concretizou milagrosamente ou por acaso. «Pequenas metas, grandes passos.»
José Pacheco acredita nos professores mas não tem papas na língua quando diz «não quero prostitutos de educação na escola.» Referia-se aos mercenários, aos que vêem a educação como apenas um emprego de funcionário público. Acredita, decorrente da prática, no sucesso e benefícios do trabalho docente solidário (não solitário), em equipa, em cooperação.
«Sem projectos o Ministério da Educação manda em nós», alertou, para logo incentivar a fuga a esse controlo normativo castrador de melhores práticas. E como? Incentivou os presentes a criar projectos («reconfigurem práticas»), mas sempre com «fundamentação». A mudança tem de ser fundamentada. E «unidos não há impossíveis.» Para este pedagogo, «quer alunos quer professores podem melhorar.» Importa o querer, porque o «maior obstáculo aos projectos sou eu», somos nós mesmos. «Temos de pensar nos que querem e ir ao encontro» deles, porque «podemos mudar o mundo mas não sozinhos.»
José Pacheco apelou mesmo à desobediência das «leis que nos desunem» (a «lei não pode proteger a má educação»), mesmo que implique «fechar as escolas até quando fosse preciso.» E acrescentou: «não posso admitir que há professores de primeira e de segunda na escola», numa clara alusão a algumas medidas do actual Ministério da Educação, que vêm minar a profissionalidade docente, o trabalho solidário, a autonomia.
A conversa com José Pacheco esteve integrada na iniciativa Escola sonhada, escola vivida, promovida pela Escola Básica 1,2,3/PE Professor Francisco Barreto (Fajã da Ovelha), impelida pelo Caravela, projecto pedagógico-educativo em prática neste estabelecimento de ensino.
quarta-feira, janeiro 10, 2007
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2 comentários:
Na escola pública em que trabalho estamos com uma taxa de evasão enorme e estamos estudando o problema, inclusive com assessoria especializada, e chegamos a conclusão que mais do que o custo do transporte ou mesmo a necessidade de trabalhar, é a falta de motivação de estudar que os empurra para fora da escola.
Um abraço
Marco Aurélio
Esqueci de dizer que admiro muito o Pacheco e a Escola da Ponte!
Um abraço
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