quarta-feira, abril 04, 2007

Estratégia de ensino-aprendizagem cooperativa e autónoma I

Exemplo de uma ficha orientadora, na posse dos alunos, para alcançar os objectivos delineados (clicar sobre imagem para aumentar tamanho).

Os docentes (de Inglês) Nélio Sousa e Sofia Sousa utilizaram, no 1º Período, uma estratégia de ensino-aprendizagem cooperativa, de forma a testar a sua aplicabilidade no contexto da escola e do trabalho no formato de turma. Esta vontade de aplicar novas soluções surgiu porque há uma inquietação e insatisfação por parte de professores e alunos face aos resultados e metodologias que são seguidas: trabalha-se um ano inteiro, com tantas aulas e o que se aprende, no final, é muito pouco para o tempo que se passa na escola. Há que rentabilizar mais esse tempo. É preciso melhores resultados, mais qualidade.

Há que fazer alguma coisa, mudar alguma coisa, naquilo que está ao alcance do professor e da pedagogia. A pedagogia não pode tudo mas pode alguma coisa. Há estratégias que estimulam mais o trabalho e a disciplina por parte dos alunos, condições base para que as metodologias funcionem e surgirem resultados. Nada substitui o esforço do estudante, que dever ser orientado e estimulado nesse sentido.

Não se pense que metodologias alternativas e mais progessistas pode ser sinónimo de aprender e saber sem disciplina e esforço. Bem pelo contrário, procuram suscitar mais essa disciplina e trabalho essenciais ao progresso educativo e escolar das pessoas.

Os referidos docentes foram alunos na escola tradicional (método simultâneo: ensinar a todos como se fosse um só, modelo que remonta ao século XVII - sim desassete -), que se mantém como modelo dominante; foram formados como professores nesses métodos e pedagogias tradicionais; ensinaram como os ensinaram, mas, nos últimos anos, foram deitando mão a outras estratégias (no Inglês há a influência anglo-saxónica: task based learning, comunicative approach, etc, que vai melhorando o método simultâneo...). Chegar à aula, despejar a matéria para dentro das cabeças dos alunos e depois estes despejarem nos testes não chega. Dar aulas não chega.

Estratégia seguida
O trabalho em cooperação é mais exigente. Exige mais autonomia, mais trabalho e empenho por parte do aluno, que tem uma postura activa. Os docentes concentraram-se no cumprimento de objectivos e na aquisição de competências bem identificados por unidade. Trabalho em equipa (grupos de três alunos no máximo), com orientação do docente. Os momentos de aula expositiva passaram a ser raros, apenas para introduzir um tema ou esclarecer determinado conteúdo, para um grupo ou toda a turma. O professor foi propondo outras actividades que ajudavam nos tópicos em estudo e ajudavam os discentes a atingir os objectivos da unidade.

A auto-avaliação contínua e no final de cada unidade (o que sei ou o que não sei) é essencial para o aluno orientar o seu trabalho, no sentido de colmatar aquilo que ainda não sabe. A avaliação pelo professor acontece no decorrer das aulas (observação) e quando os alunos do grupo atingiram todas as competências. Dizem então estar prontos para o professor os avaliar (oralmente mas não só).

O aluno, que cumpre os objectivos e é avaliado positivamente, passa a ajudar os outros no grupo ou noutros grupos.

Balanço da actividade
O docente Nélio Sousa (ver relato das conclusões da docente Sofia Sousa, num dos posts futuros) trabalhou a primeira unidade nas turmas de 7º e 8º anos. Foram organizados os grupos, inicialmente de 4 alunos, mas depois decidiu-se pelo número de três. Notou-se a diferença de ritmo de alguns alunos e grupos, como é óbvio. No geral, a pouca autonomia na aprendizagem e na adequação do comportamento foram dificuldades logo visíveis. Alunos com mais dificuldades dispersavam-se. Davam conta que o processo era mais trabalhoso do que a aula expositiva, como seria expectável. Ultrapassar a cultura de escola tradicional e mudar a forma de aprender leva tempo.

Um erro foi a formação dos grupos pelo professor, que tinha a intenção de os equilibrar juntando alunos com mais competências com alunos com menores competências, nesta fase, na disciplina de Inglês. Estava explícita a ideia de facilitar a interajuda, o que não é verdade. Interessa os alunos trabalharem com quem gostam e com quem partilha com eles o mesmo tipo de dificuldades que eles próprios sentem. Portanto, a formação dos grupos condicionou logo o sucesso da estratégia de ensino cooperativo encetada.

E o tempo começou a faltar. Apesar de haver um ficha de orientação do trabalho, a tendência era ultrapassar o tempo ideal estipulado. O docente tem de prestar contas e justificar no final de cada período escolar o cumprimento do programa, no Conselho Pedagógico. Em situação de risco, decidiu arrepiar caminho e alterar a estratégia, apesar de alguns alunos preferirem esta forma mais autónoma e cooperativa de trabalhar.

Resumindo, quando surge risco e insegurança tendemos a voltar ao método simultâneo. É onde nos sentimos seguros: lá aprendemos, lá fomos formados como professores, lá temos ensinado. É-nos familiar. Foi isso que sucedeu.

O programa tem de ser cumprido, claro. Seja qual for o método pedagógico. Faltou talvez um organização e uma mais eficaz gestão do tempo. Faltaram recursos como um plano individual de trabalho mais consistente para o aluno se guiar ou materiais disponíveis na sala de aula. Falta resolver estes aspectos.

Os alunos chegaram a ser avaliados, oral e individualmente, para verificar se tinham atingido os objectivos propostos. O professor tomou nota (qualitativa). Fazer este trabalho durante as aulas revelou-se cansativo para o professor, que tinha, entretanto, de responder às solicitações dos alunos. Outro erro. Eles têm de trabalhar mais autonomamente. Têm de ter, sobretudo, a organização e orientação para tal. Faltou resolver os obsctáculos a esse nível.

Assim, tendo em conta o cumprimento do programa e a existência de alunos indisciplinados, o trabalho em grupo não tinha o rendimento necessário. O docente passou a um misto de aula expositiva e de trabalho cooperativo mais ocasional. Aos poucos, foi desaparecendo o trabalho cooperativo e reinstalou-se o método simultâneo.

Ainda assim, melhorou-se algumas coisas. Não ficou tudo igual. Não se voltou à estaca zero, embora não tenha havido a ruptura com o método simultâneo. A aula passou a ter outro modelo, iniciando-se com um período de perguntas dirigidas sobre a matéria da aula anterior, com teoria e exposição mínimas sobre os conteúdos, com mais produção escrita (o que favorece também a disciplina). Com um objectivo bem delineado, com competências precisas a serem alcançadas, os alunos avançam para o domínio de determinados elementos (vocabulares e gramaticais) para, na oralidade e na escrita, atingirem o objectivo e adquirirem as competências.

No formato turma, com pouca autonomia, pouco empenho e perante a pouca adequação do comportamento ao espaço da sala de aula e ao processo de ensino aprendizagem, por parte de um certo número de alunos, torna-se difícil o trabalho cooperativo se não estiver tudo devidamente estruturado. Havia aspectos estruturados, mas é preciso ir mais além.

O trabalho cooperativo tem a vantagem de aprender-se mais sozinhos e com os outros do que com o professor a ditar a matéria. O professor é, acima de tudo, um orientador. O trabalho de aprendizagem fundamental pertence a cada pessoa.

É importante experimentar para se poder perceber o que é possível implementar, no contexto em que estamos. Além disso, uma ideia conduz a outra ideia, uma prática leva a outra prática, até se atingir o ponto mais adequado. As limitações e condições de trabalho existente não podem ser ignoradas. É importante projectar ideias mais ambiciosas, para caminharmos no sentido delas, mas há que aplicar aquilo que é possível para resolver problemas concretos. Sem correrias ou não fosse a direcção mais importante do que a velocidade...

Assim, os docentes Nélio Sousa e Sofia Sousa enveredaram, entretanto, pela estratégia Oficina de Língua Inglesa, da qual se dará conta, no futuro, mais em pormenor. Basicamente, consiste em aplicar o conceito do curso intensivo às aulas, para atingir objectivos/competências muito precisos e claros (essenciais ou estruturantes) e ajudar a cumprir o programa curricular para a disciplina. O trabalho de escrita é reforçado.

Mas, fica a promessa de voltar à carga e procurar romper definitivamente com o método simultâneo, pedagogia que vem desde o século XVII, criado por Jean-Baptiste de La Salle.

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