O procurador-geral da República, Pinto Monteiro, na entrevista dada à Visão (22.11.2007), denuncia que está a ser minimizada a dimensão da violência escolar nas escolas, nomeadamente pela ministra da Educação. Confirma aquilo que aqui já tínhamos dito em violência camuflada. A violência nas escolas «existe», como diz o procurador-geral.
Diz então Pinto Monteiro: «[H]á uma série de opções pessoais a que vou dar prioridade: violência escolar, violência nos hospitais e sobre os idosos. Sei que há várias pessoas, até a senhora ministra da Educação, que minimizam a dimensão da violência nas escolas, mas ela existe. Vou-me preocupar com cada caso de um miúdo que dê um pontapé num professor ou lhe risque o carro. Não quero nem que haja um sentimento de impunidade nem que esse miúdo se torne um ídolo para os colegas. Quanto à escola, ao nível penal, deve existir tolerância zero. Mesmo que seja um miúdo de 13 anos, há medidas de admoestação a adoptar. Se soubessem a quantidade de faxes que eu recebo de professores a relatarem agressões...»
À boa maneira portuguesa, tende-se a desculpabilizar e a enterrar a cabeça na areia, para justificar a inércia e camuflar os problemas. É tudo culpa da sociedade e os miúdos (e respectivos pais) não têm responsabilidade nenhuma pela violência de que são autores... E assim se infantilizam os cidadãos deste país. Os resultados estão à vista na qualidade do civismo, da cidadania e da produtividade económica do país...
É como se a escola fosse um mundo desligado da sociedade, um mundo à parte, desconectado da realidade, onde pode reinar a impunidade (ausência de trabalho e de disciplina).
E não é só violência física. A violência moral e psicológica é muito comum nas escolas (resultado também das «pulsões narcisistas e exibicionistas, ausência de perspectiva social positiva salvo a que prolonga a afirmação egoísta de si» por parte de muitos jovens, como refere Eduardo Lourenço), ainda mais minimizada e camuflada que a violência física e contra o património, porque não deixa marcas (provas) exteriores e visíveis, na sequência da agressão. Todavia, provoca enorme desgaste (emocional) da classe docente. Os psicólogos e psiquiatras sabem o número de professores-clientes que têm...
Se, ainda como diz Eduardo Lourenço, somos uma «sociedade que, sem paradoxo algum, suscista e impõe uma “violência estatal” que, exteriormente, equilibra [a] fictícia realeza individual», numa «indefinição do espaço humano que nada limita e define senão a vontade oposta», o Estado não pode assobiar para o lado. E Pinto Monteiro tem essa consciência, felizmente. Valha-nos isso.
quarta-feira, dezembro 26, 2007
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