terça-feira, janeiro 06, 2009

Intervir contra a indisciplina II

«Os professores são deixados sozinhos e sem meios sobre a indisciplina crescente» diz Daniel Sampaio (revista Pública 4.1.2009). É a realidade que se vive nas escolas, mas que a tutela, lá ou cá, desvaloriza ou ignora. A forma fácil de resolver o problema é dizer que não existe.

Esta degradação do clima escolar é razão mais forte para uma greve de professores do que o modelo de avaliação, porque tem consequências mais profundas no desempenho, saúde e realização profissional dos docentes do que o corte nos salários posto em prática pelo actual Ministério da Educação/Governo da República (na Madeira o processo está ainda em curso).

Também na Madeira é preciso actuar, porque não está diferente do Continente nesta matéria: Indisciplina por resolver nas escolas da Madeira. Como os resultados escolares não são os desejados e sabemos da menor qualidade e fraca atitude dos estudantes madeirenses, mais uma razão para eliminar esse factor de perturbação do processo de ensino-aprendizagem (aulas) para podermos melhorar o sucesso escolar.

Daniel Sampaio escreve ainda na crónica de hoje:

«Os acontecimentos de uma escola do Porto, em que um aluno apontou um revólver de plástico a uma professora, foram de imediato desvalorizados por dirigentes do ME e classificados de "brincadeira de mau gosto". Parece que o facto de ser uma arma a brincar tranquilizou a tutela, na linha de outras declarações oficiais em que a indisciplina é sempre vista separada da violência e como tal considerada de menor importância.

O risco é evidente: se não valorizarmos o pequeno incidente de indisciplina, se não respondermos de imediato com medidas correctivas de responsabilização, a desordem cresce dia após dia.

Sabe-se hoje que a degradação do clima na escola progride por estádios, desde a recusa de regras na turma e pouco trabalho, até actos graves de delinquência (agressão a professores, destruição de material escolar), com etapas intermédias de pequenos delitos, comportamentos provocatórios e desafios à autoridade que denunciam uma violência latente.

Ora a pistola de plástico insere-se num estádio intermédio de provocação que prenuncia momentos em que as regras podem passar a ser a dos grupos violentos e intimidatórios, em vez de serem construídas na sala de aula, a partir de um regulamento da escola organizado com a participação de todos.

O ME deveria criar as condições mínimas de funcionamento das salas de aula, dando aos professores força para combater a indisciplina, através da co-responsabilização de docentes, alunos e pais. Para isso o professor, amparado nas estruturas da escola (com particular realce para o Conselho de Turma), deveria ter poder para, de imediato, conseguir actuar no controlo disciplinar. Se o comportamento causador de perturbação for cedo diagnosticado, a medida correctora impõe-se com coerência e será apoiada pela maioria dos alunos e seus pais.

Concretizando: se a escola trabalhar o mais possível com a família, se os professores formarem um grupo coeso - a partir de acções de formação dirigidas à prática pedagógica com turmas heterogéneas e na consequência do trabalho no Conselho de Turma - se os alunos forem ouvidos com respeito sobre o funcionamento desejável na sala de aula, se o comportamento mínimo de indisciplina for logo detectado e respondido com medidas definidas previamente para aquele comportamento, o clima escolar poderá melhorar. Se, pelo contrário, tudo for remetido para o burocrático e aborrecido "Estatuto do Aluno" ou para o Ministério Público (não se vislumbra, até agora, qualquer sucesso na prometida e muito propagandeada acção desta estrutura), nada poderá melhorar.»

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