O laxismo faz passar os alunos-rei (leões) indisciplinados e violentos por inofensivos bichanos (brincalhões)...
A respeito do caso da Escola EB 2,3/S do Cerco, no Porto, em que um grupo de alunos ameaçou a professora de Psicologia com uma arma de plástico, exigindo melhores notas, no dia 18 de Dezembro, é ver as reacções que provam a permissividade educativa - fomento da irresponsabilidade juvenil - que se vive neste país com a maior das naturalidades:
1. A directora Regional de Educação do Norte, Margarida Moreira, já desvalorizou o incidente na Escola do Cerco do Porto, considerando, em declarações proferidas ontem, que se tratou de "uma brincadeira de muito mau gosto, que excedeu os limites do bom senso".
2. A presidente da Associação de Pais, Lina Maria, refere que "aquilo foi resolvido na altura. Eles próprios acharam que tinham passado os limites e pediram desculpa à professora. Ela aceitou e tudo ficou por aí, tanto que [a professora] não fez qualquer participação".
3. Manuel Valente, da Federação de Associações de Pais do Porto, acredita numa conspiração: "Acho também muito estranho que a divulgação destes incidentes ocorra sempre no final de um período, já durante as férias, como aconteceu com o caso Carolina Michaelis, até parece que há alguém interessado em denegrir a escola pública". Admite que esta situação foi «encomendada por quem quer neste momento a política de terra queimada nas escolas, nomeadamente os próprios sindicatos, que lhes interessa um caso destes».
4. A presidente do conselho executivo da escola, Ludovina Costa, «foi a primeira a desvalorizar o caso», como relata o Público. Considera que a turma é composta "12 alunos normais e simpáticos, dos quais todos os professores gostam, e que se dão muito bem com a professora, que também é muito brincalhona".
5. A mesma Ludovina Costa, refere que a «decisão de abrir um inquérito disciplinar decorrerá assim do facto de o vídeo ter sido tornado público mais do que pelo episódio em si.» Não tivesse galgado os muros da escola, situada numa zona socialmente problemática, o episódio morreria como "uma brincadeira de fim-de-período que mais ou menos toda a gente fez", como disse ao JN. A mesma Ludovina Costa declarou que "vai ter que actuar por causa de uma irresponsabilidade" - a divulgação das imagens na Internet.
6. "Ó professora, desculpe, sabe que somos uns brincalhões", justificou-se um aluno.
Estas passagens ilustram a cultura de irresponsabilidade deste nosso país de brandos costumes, condenado ao atraso.
Até onde chega o laxismo... Uma presidente de uma escola que está mais preocupada com a imagem, para quem a irresponsabilidade é ter-se colocado o vídeo na Internet e não dos alunos agressivos e indisciplinados; esta senhora considera ainda a professora uma brincalhona; uns alunos que justificam tudo por serem brincalhões; uma directora regional de Educação do Norte que diz não passar de uma brincadeira; uma presidente da associação de pais que tenta passar uma esponja sobre o assunto e dar tudo por resolvido; um senhor da Federação de Associações de Pais do Porto que vai ao ponto de considerar tudo uma cabala de inimigos da escola pública; uma docente que nem formalizou uma participação disciplinar.
Há ainda opinion makers que contribuem para a brincadeira...
Todos desvalorizam o episódio e contribuem para a irresponsabilidade e impunidade juvenil e incentivo aos "alunos rei", que não vêem mais nada à frente a não ser o seu ego, porta aberta para «pulsões narcisistas e exibicionistas, [com] ausência de perspectiva social positiva salvo a que prolonga a afirmação egoísta de si» (Eduardo Lourenço).
A senhora presidente da escola não esconde o seu desejo de camuflar o episódio, que é aquilo que se tem feito como regra geral. Até a ministra da Educação, com mão tão pesada para os professores, minimiza a violência nas escolas, nomeadamente aquela de que são vítimas os docentes, descorando as consequências da indisciplina na qualidade do ensino-aprendizagem.
Resumindo, somos todos uns brincalhões.
sexta-feira, dezembro 26, 2008
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